Um ano depois da demissão em bloco dos chefes de equipa do Serviço de Urgência (SU) geral e do encerramento nocturno do SU pediátrica do Hospital Garcia de Orta (HGO) nada mudou - a pandemia por SARS-CoV-2 veio agravar a situação, e neste momento a segurança dos doentes e profissionais está em risco.
Desde Setembro de 2019, após sucessivas denúncias relativamente à escassez de recursos e ausência de condições de trabalho, não foram tomadas medidas para evitar a acentuada degradação da situação no HGO.
O HGO é um Hospital Central, com um SU Geral Polivalente, com uma afluência média de 300 doentes adultos por dia e com uma área de influência direta de 350.000 habitantes, o que obriga a um número mínimo de elementos diferenciados muito acima daquele que tem sido planificado nas escalas médicas do SU geral. A situação de pandemia, ao obrigar à criação de circuitos diferenciados para doentes suspeitos de COVID-19 e não suspeitos, multiplicou os espaços de trabalho no SU geral, para o mesmo número insuficiente de médicos.
Desde o início da pandemia, que os médicos especialistas que exercem funções no SU geral e enfermarias médicas para doentes COVID e não COVID têm estado a trabalhar com grande dedicação, ultrapassando em centenas o limite de horas extraordinárias estipulado por lei. Neste momento, a escassez de recursos é tal, que a capacidade de resposta a doentes médicos no SU geral está abaixo dos mínimos estipulados, e a assistência a doentes internados com patologia COVID e não COVID está em risco.
Adicionalmente, o SU de Pediatria mantém-se encerrado durante o período nocturno mas, em situações extremas, existem casos de crianças que recorrem ao SU geral, onde não há médicos pediatras para dar resposta.
Os médicos estão em exaustão, a trabalhar em condições que não permitem garantir a capacidade de resposta às exigências do momento atual: se não forem tomadas medidas, irá haver uma rotura na capacidade de resposta a curto prazo.
Esta é mais uma das várias situações que o SMZS tem vindo a denunciar, e que mostra como a ausência de medidas concretas para reforçar o SNS, a par da falta de medidas para preparar antecipadamente o próximo outono/inverno, compromete seriamente a resposta à pandemia e manutenção dos cuidados prestados a doentes com patologia não-COVID.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) relembra que, desde o início desta legislatura, a Ministra da Saúde recusa reunir com os sindicatos médicos - esta situação é totalmente incompreensível e responsabilizamos, desde já, a Ministra e o poder político pela incapacidade do Serviço Nacional de Saúde em dar resposta aos cidadãos portugueses, que não vêem respeitado o seu direito à saúde.