Batalha naval

O naufrágio dum porta aviões

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) é um dos maiores, senão o maior, Centro Hospitalar do país. Como tal, seria de esperar que fosse um lugar onde recursos humanos, formação e tecnologia não tivessem problemas de maior. Não é a realidade.

O CHULN tem sido utilizado como tampão de muitas das dificuldades do SNS a Sul do país. Isso não levou a maior investimento tecnológico, maiores oportunidades de exercício adequado da profissão ou gestão adequada às exigências. As administrações também não têm sido adequadas a essas exigências.

Assim assiste-se a uma fuga de quadros médicos qualificados e essenciais, a não preenchimento de vagas abertas em concursos em várias especialidades, por exigências de horários desgastantes, um excesso de horas extra obrigatórias, especialmente penalizadoras dos médicos mais novos, a uma perda de marca de qualidade, à necessidade de envio cada vez maior de doentes para entidades privadas para procedimentos a que o Centro Hospitalar não consegue dar resposta, incluindo exames diagnósticos e cirurgias.

Um Centro Hospitalar nestas condições, com um défice de anestesistas e outros especialistas, que se agravará nos próximos meses com saídas previstas, actualmente já sem imagiologia em permanência, e sem possibilidade de execução de várias técnicas com qualidade e segurança, não pode ser Centro de Referência de várias patologias. Ou não deve. Porque não tem capacidade de resposta adequada aos doentes que trata em tempo adequado. Um Centro Hospitalar de Referência deve ter condições para tratar toda a patologia complexa em tempo útil.

Um Centro Hospitalar de Referência não pode perder valências, não pode perder capacidade de renovar quadros, nem pode ter formação de qualidade inadequada, por pressão dos jovens internos com horas extra penalizadoras.

Um Centro Hospitalar de Referência não pode ter urgência sem o número mínimo adequado de especialistas, nem pode ter doentes internados em macas nos corredores, ou ter os médicos ocupados a fazer trabalho de técnicos de diagnóstico, reduzindo o tempo disponível para tratar doentes. Assim, é a morte anunciada do maior Centro Hospitalar do país como garantia de qualidade.

Bem podem as contas das finanças estarem certas, bem pode o governo estar muito optimista. Quando os porta-aviões naufragam, dificilmente se ganham guerras.

Texto de Nidia Zozimo

© Sindicato dos Médicos da Zona Sul